segunda-feira, 23 de abril de 2007

"Poder pelo poder": ambição de todo político

O Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, no jantar com o PMDB, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez o seguinte auto-elogio: “Se um dia vocês chegarem à Presidência da República, vão perceber que esse é o ápice de um ser humano. Não tem nada, além disso,” (Jornal Folha de São Paulo, A6 Sexta-feira, 13 de abril de 2007).

No discurso do Presidente sobressai, na verdade, um sentido de “política” que encontramos na Sociologia Compreensiva de Max Weber (1864-1920). Não sei se foi na esteira desse sociólogo alemão que Lula fez tal pronunciamento. Pois do contrário, ele estaria rompendo e se distanciando do pensamento marxista no qual fora educado e preparado politicamente. Mas o certo é que Max Weber em seu ensaio sobre a “Ciência como vocação” (H.H. Gerth e C. Wrigth Mill, 2002) traz o seguinte significado sobre “política”: “participação no poder ou a luta para influir na distribuição de poder, seja entre Estados ou entre grupos dentro de um Estado”. Assim, todo candidato, na disputa por uma cadeira seja no Senado seja na Assembléia Legislativa, estaria, sem dúvida, lutando tanto pela participação quanto pelo desejo de influenciar na distribuição do poder. Mais ainda, na esteira de Weber: “Quem participa ativamente da política luta pelo poder, quer como um meio de servir a outros objetivos, ideais ou egoístas, quer como o “poder pelo poder”, ou seja, a fim de desfrutar a sensação de prestígio atribuída pelo poder”.

O Presidente Lula - tendo saído de uma campanha de “peito lavado”, a macroeconomia do país estabilizada e o índice de popularidade favorável – tem razão de dizer que a Presidência é “o ápice de um ser humano”. Sobretudo ele que veio debaixo: homem médio, simples mecânico, baixo nível escolar. Sem desconsiderar sua vocação para a política e seu carisma de autêntico líder, no sentido de Max Weber. Até porque segundo este autor, os ‘ministros’ e ‘presidentes do Estado’ modernos são os únicos ‘funcionários’ dos quais não se exige ‘qualificação profissional’ alguma, porque são lideranças que exercem o poder circunstancialmente. Ou seja, eles são ‘funcionários’ somente no sentido formal da palavra, e não material, como é o caso dos funcionários profissionalmente qualificados que trabalham na ‘máquina’ administrativa do Estado.

Assim, o Presidente demonstra que está desfrutando a sensação de prestígio, porque alcançou o “poder pelo poder”: a Presidência. O prazer de ter sido reeleito para comandar o território brasileiro - tendo ao seu lado uma força, o Estado, este entendido como a “única fonte do ‘direito’ de usar a violência” – dá-lhe a legitimidade de influir na distribuição do poder. Portanto, o Presidente Lula está dentro das regras de quem usufrui do poder.

Sem demagogia, a distribuição do poder nada mais é do que a distribuição de cargos às funções governamentais, sobretudo aos mais fiéis. Daí a presença de Lula no jantar com os caciques do PMDB e nos futuros encontros com os outros partidos da base é, e ele sabe disso, uma forma de reinar legítimo e democraticamente – sensação de prestígio – e fatiar os cargos entre os pares leais. Outra vez, trago o pensamento de Max Weber para apoiar tal argumento, quando este diz: “Em troca de serviços leais, hoje, os líderes partidários distribuem cargos de todos os tipos (...)”. E continua: “Todas as lutas partidárias são lutas para o controle de cargos, bem como lutas para metas objetivas”.

Portanto, as metas objetivas já foram dadas: distribuição de cargos tanto no primeiro quanto no segundo escalão, em vista do apoio, da lealdade e de base legítima para governar, mas, sobretudo, em vista das eleições presidenciais de 2010. Assim, podemos afirmar que na política nada é por acaso e sem pretensões de “poder pelo poder”, ou seja, de prestígio que este confere ao político.


São Paulo, 13 de abril de 2007.

Antonio Leandro da Silva (Doutorando em Ciências Sociais pela PUC-SP)

2 comentários:

Jaime Amparo Alves. Email: amparoalves@gmail.com disse...

Boa reflexao, hein! Pois eh, a instrumentalizacao do poder, como fim em si mesmo, afasta o presidente das bandeiras historicas de lutas do PT. A politica como vocacao obedeceria a outra logica que nao a da incestuosa relacao entre partidos politicos. O problema, no entanto, deve ser colocado mais a fundo,na base do sistema de democracia representativa. Ha espaco para o exercicio efetivo da Politica (com "p" maisculo)em nosso sistema partidario? Nao foi nossa democracia ha tempos sequestrada pelo Deus-Mercado? se em nome da governabilidade vale tudo,entao que imaginacao politica seria necessaria para contrapor a ditadura da "governabilidade"?
jaime

Unknown disse...

Caro Jaime,
Paz e Bem!

Obriagdo pelo seu comentário. Tens razão, quando distingues "Política" (com "P" maísculo) daquela "política" do dá-cá-toma-lá.
Atenciosamente
Frei Leandro.